Cólera (6.000 m.) / Plaza de Mulas (4.300 m.)
Levantamos cedo, ainda cansados da jornada do dia anterior e começamos a ouvir as outras histórias.
O Marcos chegou e deitou só um pouquinho para descansar. Acabou dormindo com os pés para fora da barraca, com os crampons na bota. A Flor também os tirou e o acordou para deitar direito. Lucas e Filipe Ferreira chegaram às 23h com o Carlos. O Bernardo chegou e alguém disse para ele que eu, o Marcos e o André não havíamos chegado. Ele ficou super preocupado, pois nós estávamos na frente e achou que tínhamos nos perdido. Saiu andando e foi em direção ao acampamento Berlim nos procurar. Só quando voltou dizendo que não havia nos encontrado, é que disseram que havíamos sido os primeiros a chegar e já estávamos dormindo.
Tomamos café dentro da barraca, pois fazia muito frio lá fora e fomos nos arrumando aos poucos para a descida até o campo base do outro lado da montanha. Arrumamos tudo, desmontamos acampamento e partimos por volta das 10h30.


A descida também é complicada e em muitas partes temos que “esquiar” a areia com pedras, o que exige cuidado, pois podemos enroscar em alguma pedra e o risco de cair existe o tempo todo. Eu sempre levo alguns tombos e caio de bunda várias vezes.
Começamos a descida numa espécie de escada de pedra, nos segurando num cabo de aço para equilibrar e nos mandamos montanha abaixo. Fomos descendo e passando pelos acampamentos do outro lado: Berlim, Canadá, Nido de Condores e parávamos de vez em quando para descansar e hidratar.

Os meninos aceleraram e sumiram na areia lá embaixo depois de uma parada. O Carlos, o Lucas Sato e o Bernardo ficaram para trás para acompanharem a mim e a Thaís, que estávamos descendo mais lentamente.


Chegamos à Plaza de Mulas, por volta das 14h30 e fomos recebidos pelo Caio, que já estava lá desde o dia anterior. Me recebeu com um abraço e disse, em função de eu ter chegado ao cume, pois como havia descido um dia antes de nós, não sabia quem tinha chegado: "Parabéns. Você não é fraca, não".

Entramos no domo refeitório, coisa que não víamos há 5 dias e nos serviram hambúrguer, pizza e coca cola. Almoço dos deuses.
Que delícia poder provar esses sabores e ficar conversando todos juntos por horas e descompromissadamente.
Ilan, Felber e André decidiram encurtar distâncias e voltar de helicóptero até Horcones. De lá pegariam uma van e à noite já estariam em Mendoza. O restante do grupo resolveu encarar a última grande caminhada no dia seguinte e fechar o ciclo.
Alguns resolveram tomar banho, outros foram arrumar as bagagens e o dia foi passando. Eu e Thaís pensamos em dormir nos beliches na barraca dormitório, mas quando cheguei lá, não me animei. O colchão não estava exatamente limpo, o local era abafado e ainda teria que pagar U$ 25,00. O Caio estava dormindo lá desde o dia anterior.
Por volta das 20h30 fomos acompanhar os meninos até o helicóptero e aproveitamos para conhecer um pouco a vila que é o campo base, com seu comércio, 2 ou 3 bares, cozinha, domos, dormitórios e muitas barracas.

Voltamos ao nosso domo e o Carlos, o Du e o Lucas Sato trouxeram vinho para brindarmos ao sucesso da expedição. Algumas pessoas, entre elas, eu, falaram algumas coisas, agradeceram à experiência que tiveram e aos guias, falaram dos companheiros de viagem e começamos a beber. Pouco depois jantamos e já havíamos bebido 4 garrafas.
Nisso o Carlos e o Du disseram para irmos visitar o Miguel, um pintor que vive 3 meses por ano no campo base e tem a galeria de arte mais alta do mundo, que consta no Guinness Book. Lá fomos nós.
Chegando lá, ele colocou músicas, todos nos sentamos em puffs e ele começou a contar sua vida, sua experiência como executivo e como largou tudo para viver pintando e continuamos a beber vinho. Depois ele pediu para cada um se apresentar.
Após isso, ele tirou a Thaís para dançar tango. Depois ele me puxou e eu disse que o ensinaria a dançar samba. Coloquei meu Ipod e comecei a sambar e ele tentando me acompanhar. Fizemos o Miguel ir até o chão, transformamos o estúdio dele em boate, deixamos apenas uma luz acesa e seguimos dançando e bebendo até às 2h.
Depois de 8 garrafas de vinho, fomos dormir. Estava muito frio e alguns poucos foram para barracas. Os outros afastaram as mesas do domo refeitório e se jogaram no chão com seus sacos de dormir como casulos. Era uma cena engraçada de ver, todos juntos, um ao lado do outro no chão.
