4º dia
Acordamos às 4h30, pois esse seria um dia muito longo. Começamos a caminhada às 5h30, ainda no escuro, com nossas lanternas de cabeça ligadas. É uma subida íngreme, para variar, mas nada que já não estivéssemos acostumados. Fizemos algumas escalaminhadas e chegamos à crista da montanha com o sol tingindo de laranja e azul o escuro da noite que estava indo.

Chegamos ao cume do Pico dos Três Estados, que estava lotado, cheio de barracas nas clareiras onde o capim de anta era amassado para que elas fossem armadas.
Lá encontramos um triângulo de metal com o nome dos Três Estados que dão nome ao pico (Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro). Tiramos muitas fotos e ficamos nos deliciando com o “mar” de nuvens e o sol ainda baixo, nascendo no horizonte. As imagens eram lindas.


Descemos rumo ao Alto dos Ivos. É mais uma escalaminhada, uma subida puxada e forte pelas pedras onde todos chegam ao cume resfolegando. Chegando lá paramos para hidratar, comer algo e descansar no solzinho gostoso que fazia. Atacamos o restante de comida que ainda havia nas mochilas e descansamos por volta de 30 minutos. De lá se tem uma visão linda do Agulhas Negras.

Depois do descanso começamos a descida que seria longa. Com a entrada na nuvem, já que até então estávamos quase sempre acima delas, o frio chegou e tivemos que vestir os casacos. Passamos pelos capins, pedras, muito bambu e logo entramos numa espécie de mata úmida, bastante fechada e com mais bambus, que a essa altura estavam me irritando bastante. Como a trilha estava bem mais fechada, eles prendiam a mochila o tempo todo, nos obrigando a voltar para desenroscar e passar por alguns quase de joelhos...aqueles que já estavam praticamente inutilizados.

Quase entrei em briga corporal com um bambu que enroscou no alto da mochila e não soltava por nada. Xinguei, puxei, arranquei e segui caminho. Nessa mata a trilha é plana, o que facilita muito, mas é longa e dali até o final da trilha no sítio do Pierre, que a gente se engana achando que é o fim da jornada, o caminho é longo. Chegando ao sítio, prepare os pés, que a esta altura estão pegando fogo dentro das botas e ande mais uma hora até a rodovia onde as vans nos pegam, mas aí já é numa estrada de terra e depois pedra.


Enfim, depois de 10h de caminhada, a travessia chegou ao fim. Lá nos abraçamos, encontramos os outros amigos dos dias anteriores, tiramos fotos e partimos para mais 40 minutos de estrada até Passa Quatro.

Normalmente sou uma pessoa que gosta de planejar as coisas, conhecer o que estou fazendo, mas também confesso uma quedazinha por decisões repentinas e assim foi que decidi numa sexta-feira que partiria na quarta-feira seguinte para a Serra Fina. Nada muito preocupante porque costumo treinar e me manter ativa dentro das possibilidades e já estava com saudade do cheiro do mato, do vento batendo no rosto, de me embrenhar numa trilha, de ver as nuvens do alto das montanhas e da sensação de liberdade que me encanta desde sempre.
Se eu disser que achei a travessia fácil, vão dizer que estou sendo pernóstica. Se disser que achei muito difícil, vão dizer que estou valorizando, então como o caminho certo para o fracasso é tentar agradar a todos, vou dizer o que realmente senti e as minhas impressões.
Achei a travessia linda, com uma vegetação interessantíssima e irritante em alguns momentos, uma variedade imensa de paisagens e desafios diferentes a cada dia. Agora vou falar uma coisa: sofri em muitos momentos, escorreguei em muitos deles, caí de bunda e parecia uma tartaruga tentando levantar com aquele casco de 20kg nas costas, passei um pouco de frio, calor e me encantei com as paisagens lindas do alto dos vários cumes pelos quais passamos.
As nuvens dançavam num céu multicolorido enchendo os olhos de beleza e talvez isso ajudasse a mascarar a dureza das subidas, a irritação dos bambus no rosto, o cansaço depois de horas e horas sob o sol e sobre as pedras.
Ela é desafiadora, intensa, dura, mas linda de ver e de viver. Travessia Serra Fina, missão cumprida.